A melhora na projeção de crescimento econômico português pode indicar alguns sinais de recuperação do país. Mesmo assim, especialistas alertam que a situação ainda é de crise e pode ser vista apenas como um pouco melhor do que no início do ano. Se em abril a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) era de queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2,3% no ano, a última avaliação, divulgada em julho, indicou queda de 0,6% para 2013. Os reflexos da crise, no entanto, levarão mais um tempo para serem esquecidos.
O professor de economia do Instituto de Desenvolvimento e Estudos de Governo (Ideg) Marcello Bolzan esteve em Portugal e na Itália estudando a situação econômica dos países neste momento de crise. Para ele, os portugueses têm demonstrado sinais de recuperação, com alguns setores apresentando uma dinâmica maior. Contudo, a situação ainda é de crise.
Os números mostram isso - o sucateamento das cidades e o elevado índice de desemprego são os mais evidentes. “Ainda deve levar um tempo para Portugal se recuperar. A recuperação é lenta, porque afetou o mercado de trabalho”, afirma. Em 2012, a taxa de desemprego foi de 15,7%, segundo o Pordata, o maior apontado pela fundação desde que deu início aos registros, há 30 anos. Crises como essa tendem a reverberar por um longo prazo, já que o mercado de trabalho é muito sensível e desarticula a economia do país, acredita o economista.
Professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Cunha também alerta para o índice de desemprego. Se comparado com outros países do sul da Europa, como Espanha ou Grécia, o número de Portugal é inferior, mas não menos significativo. Cunha vê um esforço do governo português em se adequar às exigências do Banco Central europeu, mas com um foco maior na redução de gastos que no estímulo de um crescimento mais rápido. “Portugal ainda tem uma demanda doméstica pouco dinâmica, investimentos e gastos privados e públicos em queda e importações também caindo. A situação não é empolgante, é apenas menos pior”, diz.
Quanto à melhora na avaliação do crescimento do PIB para 2013, Bolzan acredita que pode haver reflexos indiretos na economia europeia. “A Europa funciona diferente do Brasil. Aqui, para nos recuperarmos de uma crise, todas as regiões devem estar interligadas. Lá a lógica é diferente, o modelo de crescimento de cada país é diferente. São autônomos, com políticas autônomas”, afirma. O economista lembra ainda que a externalidade positiva afeta indiretamente, ainda que com certa importância, toda a Zona do Euro.
O professor do Ideg indica outra sequela da crise que deve durar por mais um período. O parque industrial português está sem investimentos há algum tempo e vem se tornando improdutivo. A consequência é menos oferta e inflacionamento dos preços. Enquanto isso, Portugal se recupera a passos lentos.