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Clubes usam genética para melhorar rendimento e reduzir lesões


POR GABRIEL RIZZO E RODRIGO MENEGAT

Os atletas que todos idolatram por nunca se cansarem e por correrem como poucos têm mais do que raça e determinação. O segredo da força, do fôlego e da resistência pode estar no núcleo das células. Lá fica o DNA, que define como vai ser o corpo humano.


Alterações genéticas podem fazer o sangue levar mais oxigênio, os músculos aproveitarem melhor a energia e os competidores serem mais resistentes ao cansaço. Além disso, o genoma define o formato do corpo, como as pernas longas e finas dos maratonistas.


Avaliando os genes, cientistas trabalham para melhorar o desempenho de profissionais ou identificar aptidões esportivas de jovens.


Clubes de futebol, como Cruzeiro e Flamengo, usam a análise genética para prevenir lesões e adaptar o treinamento. O time carioca mapeou em janeiro deste ano os genes do elenco. O fisiologista do Cruzeiro, Eduardo Pimenta, avalia a genética de atletas no clube desde 2008.


A partir de nove genes, ele identifica se os jogadores têm características para atividades que exigem mais força ou resistência e personaliza a carga de treinos. Assim, atletas sem a genética ideal para movimentos de explosão, por exemplo, evitam lesões.


O fisiologista ressalta que o mapeamento genético não serve para direcionar atletas para posições ou modalidades. "A genética não vem para excluir ninguém do esporte. Vem para fazer com que o atleta renda mais."


No Flamengo, a análise é feita em parceria com a empresa da geneticista Lia Kubelka. A pesquisadora acredita que já é possível usar diagnósticos genéticos, desde que com cuidado. "Temos mais perguntas do que respostas, mas já temos muita informação disponível. É uma ferramenta fundamental [para melhorar o rendimento esportivo]."


Iniciativa semelhante é o projeto Atletas do Futuro, que analisa quatro genes associados ao desempenho esportivo e é coordenado por João Bosco Pesquero, professor de medicina da Unifesp.


Mais de 800 atletas de alto rendimento do país tiveram a mucosa bucal colhida para que fosse montado um banco com informações genéticas, como o ex-tenista Gustavo Kuerten e a ex-jogadora de basquete Hortência.


A exemplo de Pimenta, Pesquero indica se os atletas têm potencial para atividades de força ou de resistência. Mas, ao contrário do fisiologista, diz que o conhecimento pode apontar para que modalidades os atletas são mais aptos.


Um esportista pode ter genes ligados ao bom desempenho em maratonas, que exigem fôlego, ou em corridas curtas, que pedem explosão.


Pesquero quer aplicar o método em crianças no início das atividades físicas. Assim, seria possível direcioná-las para certos esportes.


Mas há cientistas céticos quanto a essa possibilidade. Pesquisador do Instituto do Coração, Rodrigo Dias questiona a análise de um pequeno número de genes -o corpo tem cerca de 27 mil- para traçar o perfil do atleta.


Cada característica humana é modelada por centenas de genes, e alterações em um deles podem ser anuladas por outros, diz. A consequência é uma grande margem de erro.


ANÁLISE DE TODOS


Um caminho mais seguro envolve a análise de todos os genes do atleta, afirma Dias. O pesquisador faz isso no projeto DNA do Atletismo Brasileiro, que pretende ler o genoma de 500 competidores. Entre eles, estão Jadel Gregório, ouro no salto triplo do Pan do Rio-2007, e Duda, atual bicampeão mundial de salto em distância.


O programa surgiu em 2015 em parceria com a Confederação Brasileira de Atletismo e não há previsão de prazo para divulgação dos resultados.


Embora a genética favorável aumente as chances de bom desempenho, só o DNA não garante a performance.


A disciplina nos treinos e o ambiente têm papel fundamental, afirma Rodrigo Vancini, pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo. "O Neymar não nasceu Neymar. Ele tinha predisposição para o futebol, mas também uma história de vida e ambiente propícios."


A trajetória dos atletas paulistas Paulo Roberto e Luiz Fernando de Paula ilustra como os genes não explicam tudo. Gêmeos univitelinos, têm DNAs semelhantes, mas desempenhos distintos.


No início dos anos 2000, os dois fizeram um exame e constataram que a musculatura de Paulo era ideal para provas de longa distância, enquanto a de Luiz era boa para as curtas. "O doutor falou: 'Você não vai conseguir ser um bom maratonista, mas seu irmão vai'", conta Luiz.


Paulo está convocado para a maratona da Rio-2016 e espera alcançar uma posição melhor que o oitavo lugar em Londres-2012. Luiz, que não havia se classificado para Londres, deixou de correr e virou o treinador do irmão.


Ele diz, porém, que o bom desempenho não vem só da predisposição genética. "Para ser atleta não adianta ser bom, tem de ser maluco. Tem que acreditar que é o melhor."


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